quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A obstacularização do sistema de transporte coletivo rodoviário: uma análise da lotação nos ônibus no caso de Belo Horizonte.

O constante quadro de carências referente ao sistema de transporte público operado pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte - BHTrans - é protagonizado emblematicamente pelos usuários diários, cujo deslocamento depende do serviço. A cena trágica principal alude à situação de lotação máxima dos ônibus.

Permanecer na parte frontal do carro lotado parece não ser uma boa opção. A quantidade de indivíduos terceira-idade permite o incômodo, ao passo que o olhar torpe do agente de bordo alude a sua fatídica fatiga físico-visual. Isto quando os olhos não são de profunda irritação, o que permite auferir o cálculo estratégico do ator em questão, uma vez que não há ganhos extras para enfrentar o cenário caótico.

Ao enfrentar a catraca, atenção salutar é necessária, especialmente ao portar-se bolsas, mochilas ou sobrepeso. Os riscos de se prender ou girar a roleta duas vezes são elevados. Os atores, ao enfrentar a roleta, padecem de capacidade cognitiva limitada, à medida que possuem informação incompleta a respeito dos riscos de retaliação por parte do agente de bordo.

Uma vez dentro da seção posterior do ônibus, é de se notar, proeminentemente, que a dinâmica das ações daquela cena é um dilema de ação coletiva. Cada indivíduo alimenta seu cálculo estratégico a partir da previsão da atuação dos outros atores. A assimetria informacional é, a priori e a posteriori, generalizada, mas nenhum dos indivíduos parece concentrar o poder, ao menos, é claro, o agente de bordo e o motorista.

Em pé na vertical nos corredores do carro lotado, é empiricamente testável a hipótese do cálculo racional dos atores. Cada indivíduo deve posicionar-se próximo do assento ocupado que lhe parece mais provável de ser desocupado breve. A percepção é posta à prova e, não raro, falha em detectar os retirantes probabilisticamente mais acertados.

Posicionar-se no segmento traseiro do ônibus parece não ser uma alternativa visada, posto que é cenário das piores opções de assento, devido à turbulência por vezes ocasionada pelo movimento do carro.

O assento próximo da janela parece ser a opção mais viável, especialmente em dias de temperatura elevada (subsidiariamente ao calor humano). Esta alternativa consolida-se como o second best fatídico do modelo, atestado pela empiria que sinaliza-nos para o fato de que o mundo ideal seria a posse de um carro, ou de um teletransporte.

Várias outras questões dentro do modelo poderiam ser abordadas; contudo, resguardamo-nos na humilde pretensão de não exaurir a discussão, oferecendo insumos para a continuidade da análise em trabalhos posteriores.

Enfim... precisa disso tudo? Pegar ônibus lotado é FODA...

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