Há uma pedra no meio do caminho
desde quando Caminha redigiu o Brasil
Há uma pedra no meio do caminho
do menino que quer ser
bom na escola, bom de bola
um craque de futebol
Há uma pedra no meio do caminho
que trafega de noite ou de dia
na multidão ou sozinha
rolando de mão em pulmão
Há uma pedra no meio do caminho
de um simples transeunte
que insiste em ser cidadão
Passa e olha desconfiado
antes de ser passado
pelos que correm na contra-mão
Há uma pedra no meio do caminho
que deixa a família abalada
economizando vela para quando a bala
apagar o fosco-brilho dos olhos de um irmão
Há uma pedra no meio do caminho
de um beco escuro-estreito
sobre o qual cai com tantos tiros no peito
o preto-branco pobre jovem
em seu último suspiro na madrugada
Há uma pedra no meio do caminho
produto do excludente refino
refinado pela partida cidade
que impiedosa mata
sem verso nem prosa
seu futuro na flor da idade
O que será daquele menino
que insiste em jogar seu futebol?
Há uma pluma no turvo coração
que clama por uma
sabedoria modesta
destas que desbancam
qualquer sofistificada falação:
Uma alavanca e um ponto de apoio
não movem o mundo?
Por que não a pedra?
Vasto descaminho imundo
(Frank Ribeiro)
MUITO BOM!
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
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